sábado, 6 de abril de 2013


Deixei meu blog de lado por muito tempo, não que sentisse uma pontada de culpa vez por outra, porém ascoisas se atropelaram de um jeito... Lidar com a depressão grave que me envolveu nãofoi fácil, assim como continua até hoje. Está um pouco mais controlada, mas nenhum remédio não pode ser reduzido ou retirado. Mas pode ter certeza que não vou jogar  toalha ....

A parte mais dificil desta fase foi a progressão da doença de minha mãe. Ela já vinha lutando contra o câncer há alguns anos, ela teve poucos meses de sossego e em seguida a doença veio com tudo, debilitando-a rápidamente. Nós cuidamos muito dela, procuramos deixa-la sem dor, mas em vão. No dia 17 de setembro de 2011, ela partiu. Com certeza foi ser feliz em outro lugar, em companhia de outros familiares que partiram antes dela.

Sinto saudade. Muita. Sinto saudade do nosso companheirismo, das conversas bobas, das risadas que dávamos sem ter razão nenhuma. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho certeza que a sua partida para um lugar melhor, foi necessária. Ela estava sofrendo demais, dor demais.

Foi assim esse periodo, sofrimento, dor, desprendimento, união. Estamos todos próximos, tentando nos acostumar à partida dela e a falta que faz e fará.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primavera



Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

  Cecília Meireles



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sul do Brasil - by Arnaldo Jabor








SUL DO BRASIL - by Arnaldo Jabor



Se todos nós amássemos o nosso País como os sulistas, o Brasil seria outro...

O Brasil tem milhões de brasileiros que

gastam sua energia distribuindo

ressentimentos passivos.



Olham o escândalo na televisão e

exclamam 'que horror'.

Sabem do roubo do político

e falam 'que vergonha'.

Vêem a fila de aposentados

ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia

no programa dominical de televisão

e dizem 'que baixaria'.



Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!

Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.

Do ressentimento passivo à participação ativa'.



Pois recentemente estive em Porto Alegre, Caxias do Sul, Florianópolis, Joinville, Foz do Iguaçu e Curitiba, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, ainda mais um paulista/paulistano que sou.



Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Paraná, palestrando num evento da FAE, uma surpresa.



Abriram com o Hino Nacional.

Todos em pé, cantando.

Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Paraná.



Fiquei curioso. Como seria o hino?

Comentei com um senhor ao meu lado, e ele disse que em todas as partidas de futebol no estado, o hino estadual também é executado.



Começa a tocar e, para minha surpresa, quase todos cantam a letra:

“Entre os antros do Cruzeiro!

És o mais belo a fulgir,

Paraná serás luzeiro, Avante para o porvir!

A glória, Santuário..

Que o povo aspire e que idolatre-a...

E brilharás com brilho vário,

Estrela rútila da Pátria,

Pela vitória do mais forte,

Lutar, lutar, chegada é a hora!"

Na semana seguinte, em um belo evento que palestrei na Sindirádio em Porto Alegre, pós Hino Nacional Brasileiro, toca-se o Hino do Estado do Rio Grande do Sul:

“Como a aurora precursora

do farol da divindade,

foi o vinte de setembro

o precursor da liberdade”

Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.



E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.

Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.

Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.

Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Que o Rio de Janeiro tem hino? Pois é...

Foi então que me deu um estalo.

Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?



De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?

De São Paulo é que não será.

Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo e Rio de Janeiro.

Os paulistas e cariocas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.

São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.



Cada um por si e o todo que se dane.

E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.

Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Curitiba e Porto Alegre.



Algo me diz que mais uma vez os brasileiros apaixonados do sul é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo, Rio, etc.



Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.

De minha parte, eu acrescentaria, ainda: '...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'



Arnaldo Jabor

domingo, 22 de agosto de 2010

Alice Ruiz



Pode haver um dia

em que a poesia

mude de endereço

deixe apenas tédio


mas enquanto isso

vem brincar comigo

vamos até onde

possa ser só riso

possa ir tão longe

possa ser tão lindo

pode ser brinquedo

pode ser tão sério


Alice Ruiz

sábado, 17 de julho de 2010

De Clarisse Lispector




"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."


Clarice Lispector

sábado, 10 de julho de 2010

Menino Sábio


o menino me ensina

como um velho sábio

o quanto sou menina

Alice Ruiz

segunda-feira, 5 de julho de 2010



Perguntaram ao Dalai Lama:


- O que mais te surpreende na Humanidade?

E ele respondeu:

- Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.

E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.



Dalai Lama

domingo, 4 de julho de 2010

Estrelas

"A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão."


Mário Quintana

terça-feira, 29 de junho de 2010

Arnaldo Jabour, como sempre, muito inspirado...






O amor impossível é o verdadeiro amor


Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.

Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram, dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta "profunda". Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho conhecido, um amor datado, um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o "eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção. A cultura americana está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.


Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo "feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/ mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde ninguém sabe".

Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem sabem.

(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias; esse amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em compasso com o universo. Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo sexo, que as dividiu. ("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado. Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.

Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".

Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.

Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver. Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.

Arnaldo Jabor

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pedaços de Mim, por Martha Medeiros



PEDAÇOS DE MIM



Eu sou feito de

Sonhos interrompidos

detalhes despercebidos

amores mal resolvidos



Sou feito de

Choros sem ter razão

pessoas no coração

atos por impulsão



Sinto falta de

Lugares que não conheci

experiências que não vivi

momentos que já esqueci



Eu sou

Amor e carinho constante

distraída até o bastante

não paro por instante




Tive noites mal dormidas

perdi pessoas muito queridas

cumpri coisas não-prometidas



Muitas vezes eu

Desisti sem mesmo tentar

pensei em fugir,para não enfrentar

sorri para não chorar



Eu sinto pelas

Coisas que não mudei

amizades que não cultivei

aqueles que eu julguei

coisas que eu falei



Tenho saudade

De pessoas que fui conhecendo

lembranças que fui esquecendo

amigos que acabei perdendo

Mas continuo vivendo e aprendendo.



Martha Medeiros